A Raízen, maior produtora de açúcar e etanol do mundo, está promovendo uma reestruturação financeira que envolveu, na última semana, a emissão de novos títulos de dívida no exterior, com prazos mais longos, e a recompra de títulos que iriam vencer daqui dois anos.
Com a troca das dívidas, o movimento acaba prolongando o prazo médio da dívida da companhia, e pelo menos não altera sua alavancagem (relação entre dívida líquida e lucro antes juros, impostos e depreciação, o Ebitda).
Em uma semana, a Raízen levantou US$ 1,75 bilhão com operações de dívida no exterior. Deste valor, US$ 1 bilhão foi captado em uma nova emissão de notes com prazo de 12 anos e uma taxa equivalente aos Treasuries acrescidos de 2,25%. Os demais US$ 750 milhões foram levantados em uma reabertura da emissão de green bonds que vencem em 2054, com taxa equivalente aos Treasuries acrescidos de 2,5%.
A companhia vai usar os recursos dessas operações para pagar algumas dívidas em aberto, incluindo a recompra parcial das notes que vencem em 2027 em circulação. A oferta prevê recomprar por US$ 1.003,75 cada US$ 1.000 em notes dos detentores das dívidas. A operação de recompra das notes se encerra nesta segunda-feira, 24.
Na atual safra, a companhia já vinha realizando outras operações que alongaram sua dívida – tanto que o prazo médio de seu endividamento era de 6,5 anos no fim do último trimestre, ante 3,3 anos no mesmo período da safra passada.
A agência de classificação de risco S&P Global Ratings divulgou um relatório na sexta-feira, 21, avaliando que as emissões realizadas pela Raízen Fuels Finance não alteram o rating dado às emissões, já que não haverá mudança na alavancagem. A relação entre dívida líquida e Ebitda encerrou o terceiro trimestre da safra 2024/25 em 3 vezes, acima de 1,9 vez registrado um ano antes.
Na terça-feira, 18, a agência atribuiu às emissões rating BBB, com perspectiva negativa, que espelha a nota atribuída à Raízen – a Raízen SA e a Raízen Energia ofereceram as garantias. Em 30 de janeiro, a S&P Global Ratings já havia revisado sua perspectiva para o rating da companhia de estável para negativa diante do aumento da alavancagem no terceiro trimestre da safra 2024/25.
Em 30 de dezembro de 2024, a Raízen tinha uma dívida total de R$ 52 bilhões, dos quais R$ 12 bilhões no curto prazo (excluindo derivativos), enquanto a posição de caixa era de R$ 10 bilhões, segundo cálculos da Fitch, que também atribuiu à emissão das notes rating BBB.
Já no quarto trimestre e até a divulgação do balanço, a companhia havia captado mais R$ 4,8 bilhões em novas dívidas, que não consideram as operações da última semana.
Para a S&P Global Ratings, “embora haja dívida significativa no nível das subsidiárias, o rating das notas está no mesmo nível daquele de crédito de emissor da controladora, porque elas se beneficiam de garantias upstream e há ativos operacionais relevantes no nível da controladora”.
Para a Fitch, essas operações realizadas na última semana e as gestões operacionais para reduzir custos e otimizar a estrutura devem fazer com que a alavancagem da Raízen encerre esta safra em 3 vezes, podendo cair para 2,4 vezes na próxima temporada (2025/26). Ainda assim, a agência considera “improvável” que a relação entre a dívida líquida e o Ebitda caia abaixo de 2 vezes, a não ser que a Raízen venda ativos ou passe por alguma capitalização.
Nas contas da Fitch, a Raízen vai encerrar a safra atual com um fluxo de caixa negativo, com um Ebitda de R$ 11,4 bilhões, reduzindo a margem Ebitda abaixo de 5%, e uma geração de caixa operacional (Ebitda menos capex) de R$ 2,8 bilhões.
Para a safra 2025/26, a Fitch acredita que o fluxo de caixa da Raízen tende a ser neutro com a melhora do Ebitda e o aumento da geração de caixa operacional, e alcançar um fluxo de caixa positivo na temporada 2026/27.
Camila Souza Ramos