A assembleia de titulares de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) da Neomille, subsidiária de etanol de milho da Cerradinho Bio, marcada para quinta-feira, 7, não alcançou o quórum mínimo e não foi instalada. Com isso, a empresa marcou uma nova assembleia para 28 de março. Estiveram presentes titulares responsáveis por apenas 0,05% dos créditos em circulação.
A CerradinhoBio quer que os titulares de CRA deem um waiver (isenção) do cumprimento de compromissos financeiros (covenants) referentes ao balanço da safra atual, que termina em 31 de março, e não peçam o vencimento antecipado dos CRAs. Os covenants preveem métricas de alavancagem e de indicador de Ebitda sobre despesa financeira a serem apresentados no balanço do quarto trimestre da safra, que termina em março.
Em nota, a empresa afirmou que “trata-se de um cenário pontual que antecipa uma possibilidade, devido ao resultado da safra 2023/24”.
“A empresa atua para evitar o não atingimento do limite de alavancagem, em março de 2024, e reforça que tem um cenário positivo de futuro, a partir de abril de 2024, com a entrada da produção da segunda unidade da Neomille (janeiro de 2024), da fábrica de açúcar (maio de 2024) e redução no custo do milho”, acrescentou a CerradinhoBio.
A companhia vem atravessando uma safra com dificuldades em meio aos baixos preços do etanol registrados desde o início do ano passado. No terceiro trimestre, a CerradinhoBio registrou seu primeiro resultado líquido positivo expressivo da temporada, ao mesmo tempo em que elevou seu endividamento com a contratação de R$ 450 milhões em empréstimos.
No fim do terceiro trimestre, a dívida líquida da companhia havia crescido 58% desde o início da safra, para quase R$ 2,5 bilhões, com uma alavancagem (dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda) de 4,79 vezes. Em geral, o mercado avalia como uma alavancagem saudável para empresas sucroenergéticas um índice de até três vezes.
O endividamento da CerradinhoBio cresceu com a piora dos resultados operacionais. Ele foi puxado não só pelo momento de baixa no mercado de etanol como também pelos desembolsos para concluir a nova planta de etanol de milho, construída a partir do zero em Maracaju (MS).
A primeira parte da unidade foi concluída e começou a operar em janeiro. Para essa etapa, a companhia desembolsou R$ 1 bilhão, sendo R$ 88 milhões apenas no último trimestre.
No terceiro trimestre, a CerradinhoBio teve um Ebitda ajustado de R$ 412,5 milhões e uma despesa financeira líquida de R$ 189,6 milhões.
Os CRAs foram emitidos em 2022, lastreados em debêntures no valor de R$ 600 milhões, com juros atrelados aos IPCA, acrescido de 6,2253%, com prazo em 5 de abril de 2029.
Em 31 de dezembro de 2023, a empresa devia R$ 630,4 milhões aos titulares dessa emissão. Apesar da dificuldade da CerradinhoBio de alcançar as métricas com as quais se comprometeu, o rating da emissão atribuídos pela S&P Global Ratings segue em AA na escala nacional.
Camila Souza Ramos