Recomendações para enfrentar a crise sucroenergética
- novaCana.com - - Publicado: 29 Mai 2014 - 11:03 | Atualizado: 30 Nov -0001 - 21:00
Por Carlos Araujo, CEO da Mackensie Agribusiness e Consultor de Agronegócio Totvs
A travessia para o futuro tem como objetivo, por meio de fatos e números, apresentar alternativas para usinas e produtores de cana-de-açúcar se ajustarem internamente, buscando a sobrevivência, até que o mercado e o governo encontrem políticas e soluções para a estabilização e a retomada do crescimento do setor sucroenergético.
Não há resolução completa para esta crise no curto prazo, principalmente porque não há variedades de cana que elevarão significativamente a produtividade atual dos nossos canaviais. A queda do excessivo endividamento das empresas do setor, a retomada dos preços do açúcar no mercado internacional e a recomposição do preço da gasolina - tornando o etanol mais competitivo e lucrativo para as usinas - são desafios que demandam soluções de longo prazo.
Portanto, mesmo com alterações nos sistemas de produção e novas tecnologias industriais, vamos atravessar um longo período para nos reestabelecermos do impacto da crise, a qual começou com a "bolha do etanol" de 2006/07. Na ocasião, governo e empresários "sonharam" que o Brasil poderia ser um grande player no mercado de etanol e tornar-se o maior fornecedor deste produto para o mercado norte-americano.
Nos últimos anos, o setor foi impactado negativamente por conta do crescimento dos custos operacionais, do aumento do endividamento, do declínio da produção e da produtividade da cana-de-açúcar, além da queda de preços do açúcar no mercado internacional. Para um novo cenário, não há outro caminho senão uma revolução na gestão agroindustrial, investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento), aumento de produtividade e gestão precisa de custos operacionais na agroindústria.
Caso os fatos acima ocorram, somados à integração de sistemas automatizados nos processos agrícolas, com agricultura de precisão, as informações viabilizarão uma tomada de decisão mais eficiente e eficaz.
"O que não pode ser medido, não pode ser gerenciado". A partir deste conceito defendido pelo estatístico norte-americano William Deming (1900 – 1993), recomendamos a introdução do custo padrão, que é uma metodologia na qual o custo é predeterminado, fundamentado nos dados técnicos e operacionais, dentro de parâmetros otimizados e eficientes.
Além das propostas acima, é importante adotar técnicas agrícolas, tais como o plantio direto, sistema de produção que significa uma redução de 7% nos custos em relação ao plantio convencional. Há também a adubação verde, que além de proporcionar uma redução de custos de 12% em relação à adubação química, é um sistema de produção que conduz à sustentabilidade do negócio.
Nos processos industriais, há necessidade de introdução de novas tecnologias, tais como o Ecoferm, processo que permite a redução de 50% do volume de vinhaça, diminuindo o custo do transporte e aumentando o teor alcoólico de 8% para 16%.
O uso de biomassa alternativa, como o milho, palha de arroz e palha de cana, pode tornar uma usina convencional em flex. Com o aumento de dias de safra - de 182 dias produzindo etanol de cana-de-açúcar e mais 90 dias de produção de etanol de milho - é possível reduzir de 12% para 7% o custo fixo em relação ao faturamento.
Para conseguir esta travessia é necessário dar o primeiro passo para uma mudança estrutural e de gestão no setor. Não é demitindo colaboradores com conhecimento e experiência, que durante anos prestaram relevantes serviços às usinas, que a empresa sairá da crise
Carlos Araujo, CEO da Mackensie Agribusiness e Consultor de Agronegócio Totvs