Rotina dos moradores da cidade é afetada pelo constante acúmulo de fuligem
A fuligem da queima da palha da cana de açúcar continua incomodando moradores de Petrolina, no Sertão de Pernambuco. A cana que é queimada em época de colheita pela empresa Agrovale, em Juazeiro (BA), tem espalhado cinzas por toda a cidade e preocupado a população devido aos problemas de saúde respiratória que o bagaço pode causar.
Em resposta solicitada, a Agrovale comunicou que cumpre todo o regramento jurídico ambiental sobre o tema, minimizando os impactos, dialogando e acatando as sugestões, mesmo as não impositivas, dos órgãos de fiscalização do estado.
A empresa informa ainda que vem realizando investimentos contínuos, visando a melhoria dos seus processos, com a adoção de medidas técnicas e de responsabilidade econômica, social e de sustentabilidade ambiental. Como resultado, afirma que já houve uma redução significativa da incidência da fuligem em comparação às ocorrências em anos anteriores.
A Agrovale também alega que a tecnologia de corte mecanizado disponível no mercado não atende às características peculiares da agricultura 100% irrigada que a empresa pratica, que é única no mundo para a cana com alta densidade. Além disso, dificuldades de manejo do solo tem atrapalhado as ações que buscam atender a erradicação da queima controlada.
Segundo a empresa, as limitações tecnológicas estão sendo trabalhadas em parceria com consultorias especializadas, de forma planejada e responsável, com as adequações agronômicas necessárias.
Por sua vez, o Ministério Público Federal informou, por meio de nota, que já promoveu algumas reuniões decorrente de inquérito civil instaurado para apurar a situação da fuligem da queima da cana de açúcar da Agrovale.
Na casa da assistente social Josilene Lopes, a quantidade de fuligem é grande e se espalha por toda a casa. Ela conta que todos os moradores são alérgicos e que precisa limpar a casa toda manhã.
“A rotina é amanhecer com o balde e rodo na mão para poder abrir a porta. A minha filha de 12 anos, tem bronquite asmática e nesse período de maio a novembro, é o período de maior crise dela. Não só por conta da fuligem, mas da fumaça que no decorrer da noite a gente percebe aqui na nossa casa”, relata.
Segundo o pneumologista David Coelho, a fuligem pode prejudicar a saúde das pessoas, mesmo aquelas que não tenham crises alérgicas. “As partículas maiores da fuligem vão cair nos brônquios, na traqueia, na laringe e vai aumentar a produção de secreção, de catarro. Então, você pode ter tosse por conta dessa partícula irritante. Mas, mesmo quem não tem doença, também vai ter sintomas e com o efeito acumulativo ao longo de anos, pode desencadear uma doença definitiva”, conta o médico.
Os resquícios das cinzas da queima da cana ficam espalhados tanto na área da frente quanto no quintal da casa do cantor Emanuel José. Ele morava em Lagoa Grande e ficou surpreso quando percebeu os vestígios pretos da palha de cana queimada. “Eu sou alérgico e já perdi vários eventos por conta disso. Não tenho o conforto de soltar meu filho para brincar, pois ele volta preto e com a fraldinha suja, é muito difícil”.
Emanuel disse que já entrou em contato com a Agrovale, mas não recebeu respostas satisfatórias. “Eles falaram que tem os parâmetros, a documentação legal e vão continuar fazendo o que eles fazem, que é o trabalho deles”.