Preço médio dos CBios fica em R$ 97,22 na segunda quinzena de março
Valores elevados estão sendo acompanhados por uma redução na geração dos créditos: em comparação com o mesmo período de 2021, queda foi de 10,5%
Entre 1º de janeiro e 31 de março, as produtoras de biocombustíveis certificadas no programa RenovaBio escrituraram 6,83 milhões de créditos de descarbonização (CBios). O valor equivale a 19% da meta oficial para o ano, de 35,98 milhões de títulos – ou seja, se o ritmo for mantido, a geração corresponderá a apenas 76% do objetivo de compra das distribuidoras.
Além disso, em comparação com os 7,64 milhões de CBios emitidos no mesmo período de 2021, a queda na geração é de 10,5%. Considerando apenas segunda quinzena de março, a comparação anual mostra uma retração de 9,6%, de 1,79 milhão para 1,62 milhão de títulos.
Os números fazem parte do acompanhamento do mercado de CBios realizado pela bolsa de valores brasileira B3, única entidade registradora do programa.
Apesar da diminuição, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) acredita que “está tudo dentro da normalidade”. Em entrevista à Reuters, o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, afirmou que a queda no consumo de biocombustíveis nos primeiros meses do ano levou a uma redução nas emissões de CBios.
“Isso mexeu com o mercado e fez com que tivesse impacto na precificação. Mas vai sobrar CBios este ano”, disse, estimando um saldo de até 6 milhões de créditos – superior aos 5,05 milhões vistos ao final do ano passado. Além disso, há a expectativa que o mercado mude a partir de abril, com o início oficial da safra de cana-de-açúcar 2022/23.
Desde a implantação do RenovaBio até o momento, em torno de 56,31 milhões de CBios foram disponibilizados pelas usinas de biocombustíveis certificadas.
Atualmente, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), 308 unidades participam do RenovaBio; destas, três fabricam biometano e outras 32, biodiesel. Dentre as 273 usinas de etanol certificadas, 262 utilizam apenas a cana-de-açúcar; seis processam milho e cana; quatro, apenas milho; e uma produz biocombustível de primeira e de segunda geração de forma integrada.
Preços elevados – e suas consequências
Na segunda metade de março, o volume de CBios negociados chegou a 3,91 milhões. “Os números refletem todas as operações de compra e venda envolvidas em um ciclo de negociação. Assim, no caso de intermediações realizadas por corretoras ou outras instituições, primeiro é realizada uma operação de compra das quantidades e, depois, uma operação de venda para o investidor final”, explica a B3.
No período, os créditos do RenovaBio foram vendidos entre R$ 87,55 e R$ 100, resultando em um preço médio de R$ 97,22 por título.
Este valor está 101,5% acima da média histórica do programa, de R$ 48,24. Além disso, ele é 147,3% superior ao preço médio de 2021, de R$ 39,31, e 13,1% maior ante o acumulado de 2022, de R$ 85,97. Na comparação quinzenal, entretanto, houve uma queda de 2,1% – a primeira retração desde a registrada em na segunda quinzena de outubro.
Desde a implantação das negociações, em junho de 2020, os CBios foram vendidos entre R$ 15,00 e R$ 101,50. Este ano, por sua vez, os preços variaram entre R$ 31,99 e R$ 101,50.
De acordo com distribuidoras ouvidas pela Reuters, o valor dos CBios deve ser repassado aos preços nos postos, incidindo especialmente sobre o diesel e a gasolina. “Os CBios têm impacto no preço, sem dúvida. As companhias trabalhavam antes com valor perto de R$ 40, e hoje está R$ 100”, disse o representante de uma distribuidora, na condição de anonimato. “No final da linha, quem paga é o consumidor. [O CBio é] mais um item encarecendo os combustíveis”.
Além disso, segundo a Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Bicombustíveis (Brasilcom), em nota enviada à Reuters, o “crescente custo” de aquisição dos CBios “vem sendo um entrave significativo à sobrevivência das pequenas e médias empresas do setor, dando oportunidade à concorrência predatória”. Ainda conforme a Brasilcom, o impacto para os consumidores seria de até R$ 0,10 por litro.
Posse e aposentadoria
Considerando os CBios emitidos em 2022 e o saldo do ano anterior, o número de créditos disponíveis até 31 de março é de 17,28 milhões. O volume é suficiente para atender a 48% da meta de compra das distribuidoras para este ano.
Deste total, 14,87 milhões estavam acessíveis para compra e venda. No encerramento de quinta-feira, 31, a maior parte dos títulos em circulação – 69,1% – estava em posse das distribuidoras de combustíveis, com 10,28 milhões. Na sequência, as usinas certificadas detinham 29,9%, ou 4,45 milhões de CBios. Por fim, investidores sem metas a cumprir contabilizam 1% dos créditos, com 137,26 mil.
Para completar, 2,41 milhões de títulos foram retirados de circulação em 2022 por meio de um processo conhecido como aposentadoria. Embora o valor seja equivalente a apenas 6,69% da meta para 2022, ele representa um avanço significativo ante a quinzena anterior, quando apenas 0,6% do objetivo estava assegurado.
Uma parte significativa das aposentadorias registradas na quinzena – equivalente a 2,08 milhões de CBios – aconteceu na última semana, após a ANP divulgar as metas individuais definitivas das distribuidoras para 2022. As companhias possuem o prazo até 31 de dezembro para cumprirem seus objetivos.
No mesmo período de 2021, apenas 276,7 mil CBios haviam sido aposentados.
Como a B3 não informa quem solicitou a aposentadoria dos créditos, é possível que uma parte deste total seja referente a investidores que não têm compromissos com o programa. Ainda que esteja previsto que a retirada de títulos feitas pelas chamadas “partes não obrigadas” possa ser deduzida dos objetivos finais do RenovaBio, as aposentadorias de 2022 devem ser contabilizadas em 2023.
Renata Bossle – NovaCana
Com informações da Reuters