Não há informações suficientemente detalhadas sobre o nível de poluição da água de rios e bacias em várias regiões, nem sobre qual é a eventual contribuição da cultura de cana e da produção do etanol para ela. Mas os principais impactos de uso da água estão mais concentrados na etapa da produção de açúcar e etanol. (SMEETS et al., 2006).
Há também os poluentes advindos da produção de cana e etanol que podem contaminar aquíferos (reservas subterrâneas de água doce) e mananciais. Os dois tipos de poluentes mais importantes são os orgânicos (produção de etanol: vinhoto e torta de filtro) e os agroquímicos (cana-de-açúcar: fertilizantes e defensivos agrícolas).
A cultura da cana-de-açúcar no Brasil é principalmente irrigada pela chuva (SMEETS et al., 2006; MACEDO et al., 2005). A pouca ou nenhuma prática de irrigação é de grande importância na redução de impactos ambientais, não só pelo menor uso da água, como também por evitar arraste de nutrientes, resíduos de agrotóxicos, perdas de solo, etc.
A aplicação de vinhoto na lavoura reduz a necessidade de captação de água para irrigação. Adicionalmente, possibilita o menor uso de fertilizantes minerais, reduzindo as chances de contaminação dos aquíferos e mananciais. Grande parte da água utilizada é reutilizada e reciclada (fertirrigação). Consequentemente, a captação, consumo e lançamento são menores.
No entanto, o uso da irrigação está aumentando. A irrigação da cana-de-açúcar tem sido mais disseminada no Nordeste, região com reconhecido baixo índice pluviométrico e que, provavelmente, necessitará de irrigação para obter ganhos de produtividade. Além do mais, a expansão agrícola da cana para a região Centro-Oeste do Brasil tem levado à exploração de regiões com déficits hídricos mais acentuados.
A produção industrial é importante consumidora de água do meio ambiente. Apesar da necessidade de maiores estudos, algumas referências apontam valores médios de captação de água variando de 3.000 a 5.000 litros de água/tonelada de cana (FERRAZ, 2007; NETO, 2005). Levantamentos realizados pela UNICA, apesar de divulgados como relatório interno (“reservado”), apontam captação média de 1.830 litros de água/tonelada de cana (NETO, 2005). Há perspectiva do setor de reduzir rapidamente a captação a 1.000 litros/tonelada de cana.
Mas com o emprego da hidrólise enzimática e química, haverá a necessidade de aumento do consumo de água.
A aplicação de vinhoto como fertilizante pode ocasionar a salinização dos lençóis freáticos pela lixiviação desses elementos, como também causar a nitrificação do solo e contaminar as águas dos lençóis freáticos, sendo origem de graves doenças nos seres humanos (VEIGA FILHO, 2007). A regulamentação do seu uso (norma da CETESB, 2005) nas áreas próximas às usinas, e já comprovadamente saturadas, é demonstração de que embora o vinhoto seja subproduto orgânico e que contém água e nutrientes minerais, seu uso precisa ser controlado.
As enxurradas podem transportar solo, agrotóxicos e fertilizantes orgânicos e inorgânicos para mananciais próximos, o que pode comprometer a qualidade da água por contaminação e causar assoreamento e até enterramento destes mananciais.
Há diversas alternativas para reduzir os impactos na qualidade e no suprimento d’água, que vão desde a fase agrícola à industrial.
O futuro deve considerar a reconversão dos sistemas de irrigação por superfície, principal método de irrigação utilizado no país, cuja eficiência é muito baixa. No caso de regiões com déficits hídricos, a irrigação pode ser ambientalmente e economicamente viável, principalmente com o uso de métodos mais eficientes: equipamentos de maior facilidade de controle, manejo adequado dos sistemas de irrigação por superfície, sistemas para maior uniformidade de aplicação de água (por aspersão) e irrigação localizada (gotejamento e microaspersão). Por exemplo, irrigação por gotejamento subsuperficial, conforme experimentos conduzidos pelo Centro de Tecnologia Canavieira na região de Ribeirão Preto, que mostraram a sua viabilidade econômica.
Umidade e compactação do solo são fatores fortemente ligados à longevidade do canavial. As tecnologias de controle de tráfego e plantio direto atacam especificamente os referidos parâmetros de produção, ao proporcionarem maior umidade do solo, melhor aproveitamento da água da chuva (água armazenada e conservada no solo), menor compactação dos solos e redução da ocorrência, portanto, de enxurradas (perdas de solo, nutrientes e água), menor uso de herbicidas e fertilizantes.
O uso controlado de vinhoto (fertirrigação) reduz o uso de fertilizantes inorgânicos na lavoura, reduzindo os riscos de contaminação dos aquíferos. Adicionalmente, a concentração térmica do vinhoto pode reduzir a captação de água com a utilização do condensado. A retomada do desenvolvimento da biodigestão do vinhoto é uma alternativa para reduzir a carga de matéria orgânica, a elevação do pH e remoção do sulfato do vinhoto.
Há também o desenvolvimento de novas variedades de cana com maior resistência ao stress hídrico, havendo menor necessidade de irrigação em regiões com déficits hídricos mais pronunciados.
Também se deve considerar a redução da captação, uso e lançamento d’água destinada ao processo industrial. Como mencionado no Uso da água na produção da cana-de-açúcar e etanol[LINK], cerca de 87% dos usos da água ocorrem em quatro processos somente; é possível usar técnicas que reduzam sensivelmente esses usos.
A expansão da produção de etanol poderá, se alternativas e soluções não forem implantadas, provocar:
Obs.: SWOT é a sigla para quatro grupos de caracterizações que se busca ao analisar um problema ou situação. Em inglês: Strength, Weakness, Opportunities e Threats.