Faleceu na madrugada desta segunda-feira, 5, aos 98 anos, Maria Amélia de Souza Dias, conhecida como Dona Lia – uma das figuras mais marcantes da história do setor canavieiro no Brasil. Natural de Brotas (SP), Dona Lia foi a primeira mulher a presidir uma associação canavieira no país e construiu um legado para o agronegócio nacional, especialmente no segmento da cana-de-açúcar.
O sonho da jovem Maria Amélia era cursar Agronomia na Esalq-USP, mas, diante da necessidade de ajudar no sustento da família, acabou trabalhando na própria instituição. Foi ali que conheceu Hélio Cândido de Souza Dias, com quem se casou e iniciou uma trajetória de sucesso no campo. O casal se estabeleceu em Assis (SP), no Centro-Oeste Paulista, onde, em 1955, adquiriram 30 alqueires de terra e iniciaram o cultivo de cana-de-açúcar, fornecendo para a recém-fundada Usina Nova América.
Desde o início da atividade rural, Dona Lia dividiu a gestão da fazenda com o marido e liderou iniciativas sociais, como a criação de uma escola para os filhos dos trabalhadores. Com olhar atento para as necessidades do campo, ela sempre defendeu a promoção social de pequenos fornecedores e de suas famílias.
Na década de 1970, viu no associativismo uma forma de ampliar esse impacto. Em 1977, fundou a Associação Rural dos Fornecedores e Plantadores de Cana do Vale do Paranapanema (Assocana), tornando-se a primeira mulher a presidir uma entidade do setor. À frente da associação, implantou atendimentos médicos e odontológicos para os associados, reafirmando seu compromisso com o bem-estar no campo.
Sua liderança também alcançou a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que presidiu entre 1998 e 2001. Até hoje, Dona Lia é a única mulher a ter ocupado esse cargo.
Reconhecida por sua sensibilidade, firmeza e espírito conciliador, sempre esteve presente nos momentos decisivos do setor. “Foi a única mulher a presidir a Oprlana até hoje e deixa um legado marcante para todos nós, produtores. Sua trajetória e dedicação jamais serão esquecidas”, afirmou a Orplana em nota de pesar.
Mesmo sem formação acadêmica na área, Dona Lia conquistou respeito nacional e internacional por sua atuação no agronegócio. Sua trajetória foi celebrada no livro “Mulheres da Cana-de-Açúcar”, lançado em 2023, onde é destacada como símbolo de pioneirismo feminino no campo.
Dona Lia deixa um legado inspirador de liderança e inclusão, além de uma grande família: sete filhos, 22 netos e 20 bisnetos.
A Assocana, em nota, prestou suas condolências a família e amigos. “Seu exemplo permanecerá vivo entre nós. As produtoras de cana são parte fundamental da cadeia bioenergética. Entre elas, encontramos mulheres que fizeram e fazem a diferença. Pioneiras no jeito de gerir a atividade, no desenvolvimento social e até como dirigente de classe”, afirmou.
Natália Cherubin