O lobista Fernando Baiano, apontado como operador de propinas do PMDB pela Operação Lava Jato, afirmou que, em 2012, o então diretor financeiro da BR Distribuidora Nestor Cerveró (que havia sido diretor da área Internacional da Petrobras) comentou com ele sobre uma suposta pressão feita pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) na subsidiária da estatal petrolífera. Segundo Baiano, Cerveró falou sobre ‘negociações envolvendo políticos, em que o tom, o contexto e as circunstâncias sugeriam tratar-se de negócios ilícitos’.
“Se recorda de Nestor Cerveró ter comentado sobre uma negociação em que o senador Fernando Collor estaria pressionando para a BR Distribuidora adquirir uma quantidade enorme de álcool de uma safra futura, perante usinas indicadas pelo parlamentar, o que pareceu estranho ao depoente e a Nestor Cerveró, até mesmo pelo valor, que girava em torno de R$ 1 bilhão”, apresenta o descritivo do depoimento.
A siuação relatada por Baiano indica que usinas poderiam se beneficiar de um esquema envolvendo Collor em um nível capaz de trazer desequílibrio ao mercado.
Cinco depoimentos de Fernando Baiano se tornaram públicos nesta quarta-feira, 21, nos autos da Lava Jato. Segundo o jornal O Globo, a informação foi dada por Baiano ao falar sobre a compra de um Range Rover Evoque vermelho, feita para Cerveró, com quem tinha bastante contato. O carro seria um presente para a mulher do ex-diretor da Petrobras e, na avaliação da Polícia Federal, teria sido pago por Baiano como forma de pagamento de propina.
A denúncia contra Collor detalha o esquema de lavagem de dinheiro usado pelo senador, com a compra de carros de luxo, além de delações que apontam entrega de dinheiro em mãos ao político. Subordinado do doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava Jato, Rafael Ângulo relatou ter dado pessoalmente R$ 60 mil a Collor em um apartamento do parlamentar. A Polícia Federal também obteve a confirmação de oito comprovantes de depósito em nome do senador, mencionados em delação por Youssef. O doleiro disse ter feito “vários depósitos” a Collor, no valor de R$ 50 mil.
De acordo com a Folha de São Paulo, os valores da propina eram referentes a contratos firmados entre empresas privadas e a BR Distribuidora, subsidiária da estatal em que parte da diretoria fora indicada pelo ex-presidente. O PTB, partido do qual o parlamentar é líder no Senado, tinha dois diretores na estatal: José Zonis, na área de Operações e Logística, e Luiz Claudio Caseira Sanches, na Diretoria de Rede de Postos de Serviço. O primeiro foi uma indicação direta do senador.
Ainda conforme apuração do jornal Folha de São Paulo, as investigações apontam que o senador teria cometido mais de 300 práticas criminosas. Além disso, Collor já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro. As investigações indicam que Collor recebeu R$ 26 milhões em propina entre 2010 e 2014 por um contrato de troca de bandeira de postos de combustível assinado pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, e por outros contratos da estatal com a UTC Engenharia, outro alvo da Lava Jato.
Em nota oficial, o Senador Fernando Collor nega enfaticamente ter exercido qualquer ingerência – muito menos pressão – sobre a Petrobras ou sua subsidiária BR Distribuidora. “O Senador não se dignará a responder a especulações infundadas de delator a partir do que supostamente ouviu dizer de terceira pessoa, e que não apontam concretamente qualquer fato específico, nem lhe atribuem prática de qualquer ilegalidade”, afirma.
Veja a íntegra do depoimento de Fernando Baiano (.pdf).
O Estado de São Paulo com informações adicionais dos jornais O Globo e Folha de São Paulo.
Edição do novaCana.com