Para FCStone, mesmo com mix mais alcooleiro da década, etanol tem tendência altista
Mercado brasileiro deve apresentar cotações mais firmes no quarto trimestre, motivado pelo aumento na demanda do biocombustível
A demanda pode ser um determinante de alta nas cotações do etanol, afirma a consultoria INTL FCStone. Com as perspectivas de que a paridade se mantenha favorável nos próximos meses, um relatório da companhia aponta que é possível que o consumo do biocombustível, que foi o maior da história em agosto, continue renovando recordes. Desta forma, os estoques podem ser rapidamente consumidos, dando suporte às cotações e ampliando a dependência de álcool internacional.
Ainda segundo a consultoria, a safra de 2018/19 no Centro-Sul do Brasil apresentou o mix produtivo mais alcooleiro da década, o que acabou elevando significativamente a produção do biocombustível e, também, os estoques. Por outro lado, uma paridade favorável ante à gasolina continua estimulando a demanda pelo álcool.
Mesmo com a forte produção de etanol por usinas do Centro-Sul em 2018/19, os preços PVU (Posto-Veículo-Usina) do biocombustível têm se posicionado acima dos patamares observados no ciclo anterior. “No fim de setembro, as cotações do hidratado e do anidro ficaram 13,5% e 15,7% acima dos valores registrado em 2017, respectivamente. Além da sazonalidade, as expectativas de que a safra termine de forma antecipada podem intensificar esta movimentação”, explica o analista de mercado da FCStone, Matheus Costa.
Ainda assim, a relação de preços entre o etanol hidratado e a gasolina nos postos do país pode não ser afetada como em anos anteriores. Isso porque, segundo a consultoria, os dois produtos contam com um diferencial de preços bastante amplo, proporcionando uma margem para que o etanol se valorize e, mesmo assim, permaneça vantajoso ante ao seu concorrente fóssil.
A FCStone ainda aponta que é preciso considerar que as perspectivas para os preços do petróleo são majoritariamente altistas, visto que as sanções aplicadas pelos Estados Unidos sobre o Irã têm reforçado o estreitamento no balanço entre oferta e demanda. “Em consequência, as cotações da gasolina podem continuar em patamares elevados. As principais dúvidas quanto a este cenário são o comportamento do câmbio nos próximos meses e a periodicidade de ajustes da gasolina A pela Petrobras”, alerta Costa.
Nos Estados Unidos, após uma farta produção de etanol no ciclo 2017/18 (de setembro a agosto), as atenções para o ciclo atual têm se voltado para a nova safra de milho. Ao longo da safra de 2017/18, o país produziu elevada quantidade de etanol de milho, sustentando os estoques do biocombustível e, mais recentemente, pressionando as cotações.
Apesar disso, a colheita do cereal no ciclo 2018/19, iniciada em setembro deste ano, tem sido mais farta do que anteriormente esperado – o que tem pesado sobre os preços da matéria-prima, bem como mantido as margens de destilação relativamente favoráveis. Com isso, é possível que, mesmo com o período de manutenção das destilarias, a produção continue forte.
Além disso, as expectativas de que a venda ao longo de todo o ano de gasolina E15 (com 15% de álcool aditivo) seja liberada podem impactar o setor de biocombustíveis norte-americano no médio e longo prazo. As expectativas são de que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) revogue a regulamentação que impede a comercialização de gasolina com teores de etanol superiores a 10%, conforme direcionado pelo presidente Donald Trump.
“Caso concretizada, a liberação das vendas sustentaria o consumo de álcool ao longo do próximo ano – especificamente durante a driving season, época de maior demanda”, resume Matheus Costa.