A questão do desenvolvimento tecnológico e a concentração da produção são pontos-chave para se compreender o momento da reestruturação da produção do etanol no Brasil e em outras partes do mundo. Para atingir padrões de desenvolvimento e domínio do mercado no setor de combustíveis, a escala de produção é determinante e se associa ao montante de investimentos tecnológicos com um forte agrupamento de empresas com capital excedente disponível.
Nesse sentido, Rodrigues (2010) ilustra o movimento da concentração da produção em grandes empresas: a compra da Santa Elisa/Vale pela Dreyfus, que se transformará em uma gigante global; a Bunge crescendo também, com a compra do Grupo Moema; a ETH (sociedade da Odebrecht com um forte grupo japonês) comprando a Brenco; a parceria da Cosan (maior produtora do mundo) com a Shell, que muda o paradigma da distribuição de biocombustíveis, além de a mesma Cosan, no ano passado, ter adquirido a rede de distribuição nacional da Esso; a parceria da Usina São Martinho, em sua unidade de Goiás, com a Amyris, empresa americana de tecnologia, que fará diesel a partir da garapa; a gigante indiana Shree Renuka Sugar comprando a Equipav. Enzm, há um movimento sem precedentes no mercado sucroalcooleiro, envolvendo concentração, consolidação e internacionalização.
Mas isso não ocorre apenas no Brasil. Empresas europeias começaram a negociar terras na África para produzir etanol exportável à União Europeia, com isenção tarifária. A suíça Addax Bioenergy já está em Serra Leoa; a sueca Sekalb, que importa etanol brasileiro, está negociando investir na Tanzânia. As empresas brasileiras também se preparam para ganhar mercados nos potenciais países produtores e consumidores, como Senegal e Guiné-Bissau, na África, nos mesmos moldes da parceria que temos com os Estados Unidos para produzir na América Central e no Caribe, ou das intenções de negócios já encaminhadas para Colômbia, Venezuela, entre outros na América do Sul.
Esse movimento de entrada de poderosas multinacionais sinaliza a criação do mercado global do etanol. O aporte à pesquisa e desenvolvimento (P&D) na área de novas matérias-primas, equipamentos e processos, ao atingir cifras multibilionárias em dólares, é outro sinalizador, dado que nenhuma empresa se arriscaria a investimentos tão grandes pensando apenas no mercado interno.
Um importante sinalizador dos rumos do mercado foi o reconhecimento, pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) de que nosso etanol de cana é um biocombustível avançado – ou seja, que comprovadamente reduz em no mínimo 50% o nível de emissões de gases de efeito estufa em toda a cadeia. De acordo com estudos da EPA, as emissões de CO2 do etanol de cana-de-açúcar correspondem a 39% das emissões da gasolina (ICONE, 2010). Este fato possibilita a abertura do mercado americano mais cedo do que se esperava, inclusive com a possível redução de tarifa imposta ao etanol brasileiro que hoje dificulta as exportações para lá. Também é coerente com o fato de a expansão das atividades dos investidores norte-americanos em terras brasileiras e em outros países, uma vez que não seria interessante para as empresas produzir combustível visando ao mercado dos Estados Unidos sem tal reconhecimento.
A importância dos avanços tecnológicos para o setor pode ser evidenciada, por exemplo, com os indicadores constantes no quadro 1 que apresenta o impacto da introdução de novas tecnologias na produção do etanol.

Como pode ser observado no quadro 1, o incremento previsto para produtividade agroindustrial – sem considerar a introdução de outras rotas para a produção, como o etanol celulósico – deverá permitir, nos próximos anos, uma economia de terra de 3,4% na superfície plantada, por unidade de etanol produzido, um relevante impacto da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico nesta agroindústria.